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Surpreende-me sempre a capacidade dum cheiro de nos transportar a outros tempos.

O Pinho, de inconfundível fragância, remete-me imediatamente para casa e para a velha propriedade do senhor Ramiro, onde eu e o resto dos miúdos nos metíamos em sarilhos a toda a hora.

E claro... a Teresinha!

Desde que me lembro de ser, até ao final do liceu, foi presença constante em quase todas as minhas memórias. A Teresinha foi, sem dúvida, a minha melhor amiga na infância e passámos por muito, juntos. Perdemo-nos juntos! Deixámos a noite cair enquanto nos embrenhávamos nas tão nossas, e famosas, expedições. Naquela altura, o meu sonho era ser explorador. Acabámos abraçados, debaixo de um arbusto, para nos aquecermos um ao outro, e só no dia seguinte, de manhã, nos encontraram. Nem sei como não morremos de frio.

O meu primeiro beijo foi com ela. Tínhamos ido à matiné ver “O Meu Primeiro Beijo”, aquele com o Macaulay Culkin e a Anna Chlumsky, e acabámos por ir copiar o que eles haviam feito... só por curiosidade. Até então, eu ainda julgava que beijar era uma coisa de adultos. A verdade é que ambos odiámos a experiência e acabámos por concordar jamais haver algo romântico. entre nós, mesmo quando entrámos na fase dos namoros. Tornámo-nos confidentes um do outro, e, pensando bem, mesmo após a minha ida para universidade, permanecemos muito próximos. Apesar de falarmos maioritariamente por telefone e internet.

Quando é que nos afastámos tanto? No meu casamento já pouco falávamos, e isso já foi há sete anos! Há qualquer coisa que muda quando entramos no mundo do trabalho, como numa espécie de mágica adormecemos, ainda que acordados, e deambulamos sonâmbulos dia... após dia... após dia e, então, num estalar de dedos, já se passaram anos.

Devia ligar-lhe, mas já passou tanto tempo... caramba, mas é a Teresinha, tenho de ligar!

“O número que marcou não se encontra atribuído”.

(Fotografia retirada do Unsplash por: Quino Al)